quarta-feira, 27 de junho de 2018

Números de azar



Título: Números de azar
Autor: Anne Holt
Páginas: 216

História policial ambientada na cidade de Oslo, envolvendo atentados que sempre acontecem aos sábados onde há muito sangue, mas nenhuma vítima e também estupros envolvendo principalmente imigrantes. Em meio a tudo isto está a detetive Hanne Wilhelmsen com a difícil missão de solucionar os casos.

Li o resumo na capa do livro e pensei que a história seria interessante, mas me decepcionei. Achei que foi muito barulho por nada. A história não conseguiu prender minha atenção. Acho que há muita enrolação e pouco desenvolvimento. Os números mencionados no título, pouco ou nada ajudam na história. Mas, claro, esta é a minha visão. Leia e tire suas próprias conclusões.

Trechos interessantes:

“A mulher de 24 anos sentada de frente para ela, olhando para baixo, era a 42ª vítima de estupro de que a investigadora Hanne Wilhelmsen teria que cuidar. Ela mantinha a contagem. O estupro era o pior crime de todos. Homicídio era algo diferente, ela podia, de certa forma, compreender.
Um insano e furioso momento de violência e instabilidade, talvez um traço de agressão reprimido durante anos. Isso até entrava na cabeça dela. Mas não o estupro.” (pág.  33)

“– O que você faria se alguém me estuprasse? – ela perguntou de repente.
– Estuprasse você? Por que alguém a estupraria? Você não é tão descuidada assim para ser estuprada.
– Sinceramente, querida. Você precisa repensar isso. Nunca se é estuprada por descuido.
– Ah, não? Por que nenhuma de nossas amigas foi estuprada até hoje então? Por que o jornal constantemente noticia que as garotas foram violentadas nos locais mais suspeitos da cidade, nas horas mais propícias? Se você tomar cuidado, não será estuprada.” (pág. 74/75)

“Nove dias e oito noites. Ela não tinha falado com ninguém. Houve, naturalmente, a troca esquisita de palavras com seu pai, mas ainda parecia que eles estavam cheios de rodeio. No fundo, cada um sabia muito bem o que o outro queria dizer, mas como começariam, como continuariam, não tinham ideia. Não conseguiam quebrar ou vencer a barreira que os aproximava, mas que ao mesmo tempo impossibilitava que se comunicassem.” (pág. 123/124)

“Ele merecia morrer. Ela não merecia o que ele tinha feito com ela. Ele era um ladrão e um assassino. O pai dela não merecia sofrer daquela maneira. Quando finalmente se acalmou, passou a saborear uma espécie de satisfação apaziguadora, pois uma atitude seria tomada; ela ficou atônita. Isso era loucura, pura e simples. Você não pode simplesmente matar pessoas. Mas, se alguém tinha que fazer isso, seria ela.” (pág. 156)

“Kaldbakken suspirou profundamente, e ela pôde ouvir o chiado em seus brônquios muito cansados.
– Mas, no geral, tem sido bom trabalhar na polícia – ele comentou, contemplando o ambiente. Quando você vai para a cama à noite, sabe que é um dos mocinhos.” (pág. 166)

“Finn Haverstad não estava preocupado em ter que se livrar da culpa pelo assassinato do homem que estuprou sua filha. Ele queria garantir que realizaria seu propósito em paz. Depois, passaria algumas horas com Kristine antes de se entregar à polícia e contar o que tinha feito. Ninguém o condenaria por isso. É claro que ele receberia uma punição por um tribunal de justiça, mas ninguém realmente o condenaria. Ele jamais se condenaria. Seus amigos certamente não fariam isso. E, quando não houvesse mais o que fazer, quando a situação ficasse crítica, Finn Haverstad não dava a mínima para o que os outros fossem dizer. Matar era essencial para ele. Isso era justiça.” (pág. 172/173)

domingo, 24 de junho de 2018

Subindo pelas paredes



Título: Subindo pelas paredes
Autor: Alice Clayton
Páginas: 278

Caroline muda-se para um novo apartamento e descobre que, ao contrário do que esperava, suas noites não serão nada calmas. Devido às paredes finas do apartamento, ela consegue ouvir e sentir tudo o que se desenrola no apartamento vizinho. As atividades sexuais do seu novo vizinho a deixam desconfortada, principalmente pelo fato dela estar sozinha ultimamente.

Diante da situação decide reclamar diretamente ao vizinho e, como era de se esperar, descobre que ele é o homem dos sonhos de toda garota. Daí pra frente é fingir que não quer nada com ele e, ao mesmo tempo, insinuar que deseja. O final é previsível e, tratando-se de um romance erótico, apresenta uma linguagem apimentada e tudo mais que se espera de livros desse gênero.

Trechos interessantes:

"– Você já viu esse cara? – Mimi perguntou, o olhar ainda fixo na parede.
– Não. Mas o meu olho mágico tem trabalhado bastante.
– Bom, pelo menos um buraco tem estado ocupado nesta casa – Sophia  murmurou." (pág. 25)

"A música parou de repente. Caí como se tivesse sido atingida. Mimi e Sophia levaram a mão uma à boca da outra, enquanto eu continuava estendida na cama e mordia o nó dos dedos para não rir. O frenesi no quarto era igual ao de ser pego fugindo depois de tocar a campainha do vizinho ou dando risada no fundo da igreja. Você não pode parar e também não pode não parar." (pág. 43)

"– Acho que consigo encontrar algo – provoquei, esticando o braço ao mesmo tempo que ele recolhia o seu. Sua mão roçou a lateral do meu seio, e ambos estremecemos. – Você está tentando me bolinar, é? – falei, sintonizando uma canção.
– Fala a verdade, você colocou os peitos no caminho da minha mão! – ele disparou.
– Acho que a sua mão mudou de direção diante da trajetória dos meninos aqui, mas não se preocupe. Você não foi o primeiro nem será o último a ser atraído para a órbita destes dois seres celestiais – suspirei dramaticamente, olhando-o de soslaio para ter certeza de que ele tinha pegado o tom de brincadeira. O canto de sua boca se espichou num sorriso, e eu me permiti um sorrisinho também." (pág. 56)

"Nunca pensei que fosse gostar de ficar sozinha, mas, ultimamente, vinha me sentindo muito bem sem um homem na minha vida. Estava só, porém não solitária. Orgasmos à parte, sentia falta da companhia de um namorado de vez em quando, mas gostava de ir aos lugares sozinha. Se podia viajar sozinha, por que não? De qualquer modo, na primeira vez em que resolvi ir ao cinema sem ninguém, achei que seria estranho - a probabilidade de encontrar um conhecido no meio de uma selva costa-riquenha era próxima de zero; já na selva de San Francisco? A probabilidade era muito maior - só que foi ótimo! E ir sozinha a um restaurante também foi bacana. O fato é que eu sou uma ótima companhia." (pág. 78)

"Eu era próxima de meus pais. Eles ainda viviam na mesma casa em que cresci, numa cidadezinha do sul da Califórnia. Eram pais maravilhosos, e eu os via sempre que podia, ou seja, nos feriados e um ou outro fim de semana. Como alguém com vinte e poucos, curtia minha independência.
Mas meus pais estavam lá para mim quando eu precisava, sempre. O pensamento de que, um dia, eu vagaria por esta terra sem minha âncora, sem sua orientação, me fez estremecer - não podia sequer imaginar perder ambos sendo uma criança de dezoito anos." (pág. 124/125)

"Uma tarde - eu tinha quinze anos -, minha avó me disse que o vestido cor-de-rosa que eu estava usando ficava bem em minha pele. Fiz uma careta e discordei:
– Obrigada, vovó, mas ontem só dormi três horas, e se tem uma coisa que estou hoje é bonita. Cansada, pálida, não bonita. Revirei os olhos como as adolescentes fazem, e ela pegou minha mão.
– Sempre aceite um elogio, Caroline. Aceite pela intenção de quem o faz. Vocês garotas sempre distorcem o que os outros dizem. Apenas agradeça e siga em frente. – Ela sorriu do seu jeito sereno e sábio." (pág. 226)

domingo, 17 de junho de 2018

Banquete com os deuses

Título: Banquete com os deuses
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Páginas: 230

Neste livro o autor nos brinda com crônicas e textos diversos, tendo como base o cinema, a literatura e a música. Foge um pouco da característica do cronista que retrata assuntos comuns do dia a dia para se aventurar em temas mais pessoais, sem deixar de lado a ironia e o bom humor.

Claro que, com meus parcos conhecimentos, ignoro grande parte dos autores e músicos mencionados, mas nem por isso deixo de apreciar o estilo e sagacidade da escrita. Meu conhecimento sobre cinema é superficial, por isso, mesmo conhecendo boa parte dos filmes, não tenho o entendimento necessário para comentá-los.

Trechos interessantes:

"O cinema é a arte dos sentidos, não do intelecto. O drama humano pode ser contado numa sucessão de poses. E isso é ofício de narcisista. Quanto mais, melhor." (pág. 27)

"A conquista do mundo, que quase sempre significa tomá-lo de quem tem uma pele diferente ou um nariz um pouco mais achatado do que o nosso, não é uma coisa bonita de ver. O que a redime é a ideia, apenas. A ideia por trás dela: não uma pretensão sentimental, mas uma ideia, e uma crença desinteressada na ideia — alguma coisa a qual se pode amar, e reverenciar e oferecer sacrifícios..." (pág. 34)

"O que isto tem a ver com o Dom Quixote de la Mancha, Borges o que quer que seja, pergunta você? Estou surpreso de você ter chegado até o fim deste texto, quanto mais de ainda fazer perguntas. Não posso responder. Eu não estou aqui desde a terceira linha." (pág. 38)

"A minha preocupação constante é: haverá uma vida depois da morte? E, se houver, será que eles trocam uma nota de 500?" (pág. 50)

"Truman Capote era o dono da casa onde acontecem os crimes naquela comédia policial escrita por Neil Simon, cujo título, claro, só me ocorrerá quando você já estiver lendo isto. Capote, que nunca fez muito sucesso na França, porque lá 'capote' é o apelido de camisinha e o gosto francês pela ironia não vai tão longe, só podia mesmo fazer um personagem fictício. Nem ele conseguiria interpretar o próprio Truman Capote convincentemente." (pág. 77)

"Confesso que não acompanhei o envelhecimento dos Beatles com muita atenção, principalmente depois que o John parou de envelhecer. As pessoas e as coisas que têm um significado muito forte em certas fases de nossas vidas só existem depois para lembrar como tudo passa." (pág. 179)

"–O que será que estão me dando? — pergunta Sócrates.
–Se não é scotch é porcaria – sentencia Shaw.
–A última bebida que me deram era cicuta.
O rosto de Shaw se ilumina com a deixa.
–Cicuta, pra mim, é um veneno..." (pág. 196)

"O cérebro humano é uma coisa tão complexa que nem o cérebro humano é complexo o bastante para entendê-lo. Era só o que eu queria contribuir para o desânimo geral destes dias, obrigado." (pág. 227)

domingo, 3 de junho de 2018

Meu reino por um cavalo

Título: Meu reino por um cavalo
Autor: Ivan Pinheiro Machado (org.)
Páginas: 150

Como afirma o próprio subtítulo, trata-se de um livro de citações, aforismos e frases célebres. São frases de poetas, cientistas, políticos, filósofos, pensadores, etc., algumas delas amplamente conhecidas, sendo a maioria com o sentido humorístico ou sarcástico.

As frases estão divididas por assuntos (amor, tempo, dinheiro, poder, etc.) acompanhadas de ilustrações que as representam ou satirizam. Sendo um livro de citações, apenas a frase e o autor são mencionados, sem qualquer tipo de comentário  ou esclarecimento.

Exemplos de frases:

"Você diz que ama a chuva.
Mas quando ela cai, você fecha as janelas.
Você diz que ama os peixes.
Mas corta-lhes a cabeça.
Você diz que ama as flores.
Mas corta-lhes a haste.
Então... quando você diz que me ama,
tenho medo!" (Marcel Rioutord) (pág. 15)

"Não existe vingança maior que o esquecimento." (Baltasar Gracián) (pág. 18)

"Mesmo no amor, é puramente uma questão de fisiologia. Os moços querem ser fiéis e não são; os velhos querem ser infiéis e não podem." (Oscar Wilde) (pág. 21)

"Nenhum homem rico é feio!" (Zsa Zsa Gabor) (pág. 31)

"Só se morre uma vez. E é por muito tempo." (Molière) (pág. 37)

"Podes exigir que eu busque a verdade, mas não que eu a encontre." (Denis Diderot) (pág. 49)

"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana: mas quanto ao universo, ainda não tenho certeza absoluta." (Albert Einstein) (pág. 75)

"Errar é humano. Mais humano ainda é atribuir o erro aos outros." (Anton Tchékhov) (pág. 76)

"Prefiro o paraíso pelo clima e o interno pela companhia." (Mark Twain) (pág. 93)

"Minha vida está cheia de grandes desgraças. Muitas das quais nunca aconteceram." (Montaigne) (pág. 102)