quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Uma janela para o inferno

Título: Uma janela para o inferno
Autor: Brice Pelman
Páginas:

Romance policial da série Mistério, lançado pela Editora Abril em 1981. Essa série era composta por vários títulos, geralmente de pouca espessura e autores diversos. Esse título era o nº 28 da série.

Didier, um jovem de dezesseis anos que viaja num carro-casa com o pai e a mãe, descobre os prazeres do amor com a bela Viviane, uma mulher que mora sozinha num vinhedo. O envolvimento com Viviane traz complicações para Didier quando, para protegê-la, ele mata um indivíduo.

Trechos interessantes:

"Dei uma olhada no meu relógio de mergulho. Eram vinte e uma horas e onze minutos. Não precisava tanta exatidão assim, mas se não é pra ser exato, o que adianta ter um relógio?" (Pág. 5)

"Papai sempre chamava de novos-ricos todos aqueles que ganhavam mais do que ele. Quer dizer, todo mundo... Eu não tenho ideia do que Viviane tinha, de quanto ganhava, mas, na certa, o velho ia achar que ela também era uma nova-rica. Ou, então, ia dizer que era uma mina, uma piranha. Eram as palavras preferidas dele; o mundo era povoado por novos-ricos, vigaristas, minas e piranhas. Ah, não! Tinha também os filhos da puta. Abaixo de uma certa idade, os caras eram filhinhos da puta." (pág. 27)

"-Você não devia falar dessas coisas na frente de Didier! - disse ela, brava. -Olha só como ele está!
Papai sacudiu os ombros e usou a voz tipo Gabin:
-Didier já está na idade de ouvir essas coisas! Mantendo esse garoto todo protegido em algodão, você acha que vai fazer dele um verdadeiro homem, é?
-Um homem! Um verdadeiro homem! - resmungou minha mãe. -Ele tem muito tempo para ser um homem!
-A violência e o crime vão ser a ruína da civilização, e nosso filho precisa saber disso!" (pág. 39)

"Não era um sarro o que estava me acontecendo? Dois dias antes eu nunca tinha sequer visto uma mulher nua e, agora, graças a ela, tinha me tornado um perito, um amante de classe. Bom... claro. Também nesse meu caso havia o tal do reverso da medalha, de que todo mundo fala. Eu tinha matado um cara." (pág. 50)
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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Advogado do diabo

Título: Advogado do diabo
Autor: Jonathan Maberry
Páginas: 318

A proposta do livro é mostrar a origem de Dana Scully, uma das personagens principais do seriado "Arquivo X". Seria, digamos assim, um rascunho do que viria a ser o seu trabalho futuramente. Aqui, Dana é uma garota de 15 anos e suas preocupações são as típicas da adolescência, com muitas dúvidas e quase nenhuma certeza.

Quando alguns garotos da escola morrem em acidentes de carro, Dana acha estranho o fato de, numa cidade pequena, várias mortes ocorrerem por acidente e em pouco espaço de tempo. Ela passa a ter visões dos alunos mortos e procura ajuda na loja de terapia e meditação que costuma frequentar. Apesar do esforço e dedicação de Dana, solucionar o caso não vai ser tão simples quanto ela espera.

Trechos interessantes:

"Dana não era tão zelosa quanto queria ser. A fé, como a crença em qualquer coisa que fizesse parte do mundo espiritual, exigia esforço da parte dela, mas ao mesmo tempo a interessava. Dana gostava do método e da estrutura de rituais e preces; eram como fórmulas para ela. Dana ia à igreja, mas não tanto quanto a mãe queria. Ela sabia que havia respostas ali, mas talvez não para suas perguntas. Ou talvez fosse o instinto que dizia para Dana que a igreja não responderia a todas as questões. Ela não tinha certeza." (pág. 15)

"Ouviram um som como de uma lancha a toda velocidade, e um borrão passou por elas. Dana vislumbrou o cabelo mais ruivo da família, as bochechas sardentas, uma camisa listrada e tênis gastos quando o Scully mais jovem passou por ela, irrompeu porta afora, pulou da varanda e desapareceu. Charlie, de dez anos, era daquele jeito. Era quase um fantasma na família, raramente interagia com alguém e vivia constantemente dentro da própria cabeça, perdido em sabe-se lá que fantasia solitária ele representava." (pág. 24)

"Melissa parecia ter vinte anos quanto tinha doze. A mãe tentou dizer para Dana que parecer uma mulher adulta naquela idade não era uma bênção, mas ela sempre invejou a silhueta de Melissa. 'Charme, uma personalidade extrovertida, um grande senso de humor e peitos', ponderou Dana ao catalogar os trunfos da irmã. 'E o que eu tenho? Melancolia? Notas melhores? Uma grande dose de esquisitice? É, isso vai conquistar todos os garotos.'" (pág. 33)

"-Se você esperar até que um ataque aconteça para planejar uma defesa - disse Miyu -, então já foi derrotada. Nós treinamos a vida inteira para estarmos preparadas para um ataque, de maneira que no momento nós reagimos corretamente, usamos a memória muscular, os reflexos e o desenvolvimento de uma habilidade repetitiva arraigada profundamente. Havia um ditado entre os samurais que dizia que treinamos dez mil horas para um único momento que pode nunca acontecer. Ah, mas se acontecer, então todo aquele treinamento valeu a pena. E... se não acontecer, então aquelas horas foram bem gastas, porque um samurai não é julgado pela agudeza de sua espada, mas pela agudeza da mente." (pág. 47)

"-Você também planeja se tornar um policial?
-Eu? Não exatamente. Eu quero ser um cientista forense.
-O que é isso?
-É alguém que trabalha para o departamento de polícia coletando e analisando provas. Manchas de sangue, impressões digitais, todo tipo de coisa. Há um ditado que diz 'o contato sempre deixa um rastro', e é isso que os peritos forenses procuram. Sabe nos seriados policiais quando o policial diz que está mandando algo para o laboratório? É o departamento forense. É ali que o verdadeiro trabalho policial ocorre." (pág. 88)

"-Acho que sim.
-Não - retrucou Luz do Sol, fazendo um sinal negativo com o dedo. - Essa é uma resposta imprecisa. Ou você concorda ou não. Tenha certeza, Dana. Não me venha com evasivas, nem se esconda atrás de truques de ofuscação.
Ela assentiu com a cabeça.
-Desculpe.
-Não se desculpe, também - disse ele. - Você veio aqui para aprender, e isto é uma lição. Jamais peça desculpas pelo que você não sabe. Não há vergonha nisso. A vergonha existe quando você se recusa a aprender ou quando finge não saber. Isso é ignorância proposital, e é desprezível." (pág. 169)

"-O futuro não é uma verdade absoluta, agente Gerlach. A chave para a sobrevivência é estar preparado para quando a oportunidade surgir." (pág.189)

"Tudo na vida de Dana parecia estranho, complicado e explosivo, e agora ainda tinha aquela confusão com Ethan. Aquilo realmente a magoou, porque ela gostava mesmo dele, e agora Ethan fazia aquilo. Ele mostrou que não era diferente de qualquer outro garoto, de qualquer outro homem. Dana era uma garota, e aquilo significava que ela era inferior. Foi o que Ethan tentou não dizer, mas foi o que saiu. O mundo não foi feito para garotas ou mulheres. Foi feito por homens que não queriam compartilhar nada. Nem o poder, nem o dinheiro, nem as vantagens, nada. Aquilo a deixou furiosa. Afinal de contas, era 1979. Tudo isso já não deveria ter sido resolvido àquela altura?" (pág. 238)

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Por que o Brasil é um país atrasado?

Título: Por que o Brasil é um país atrasado?
Autor: Luiz Philippe de Orleans e Bragança
Páginas: 254

Eis um livro que deveria ser lido por todos os brasileiros, de forma a entender os conceitos básicos de política, economia e sociedade e conseguir compreender por que estamos nessa situação catastrófica e, quem sabe, vislumbrar alguma possibilidade de que possamos sair do buraco.

O livro analisa o processo político do Brasil desde sua origem, mostrando os principais problemas e entraves, à luz das Constituições e ainda é recheado de gráficos e exemplos. Mesmo quem não tem noções de política ou economia consegue assimilar a ideia principal do livro. Claro que não há uma resposta única à pergunta-título, mas, mesmo assim, várias sugestões são apresentadas.

Trechos interessantes:

"Chegamos ao momento atual em que fica óbvio que nossos governantes não nos protegem. Nem sequer nos representam; eles nos espoliam. Não temos mais o noblesse oblige, ou seja, a obrigação dos nobres. Nossos governantes gastam mais fortunas hoje do que aquelas consumidas pelos castelos reais de outrora. Preferem arrecadar 40% em impostos do que doar 2% diretamente para entidades beneficentes honestas e eficientes." (pág. 10)

"Quem não sabe o que é, não sabe o que quer. E, quem não sabe o que quer, não chega a lugar algum." (pág. 15)

"Em 2016 o desconhecimento da Constituição produziu ruídos como a qualificação de 'golpe' ao processo contra a ex-presidente Dilma Rousseff - narrativa que chegou a cruzar o Atlântico e influenciar alguns jornais de boa reputação. Uma olhadela rápida na própria Constituição esclareceria a dúvida e simplesmente aniquilaria o discurso do golpe em minutos. Depois, o Partido dos Trabalhadores passou a difundir que o impeachment seria, na verdade, um 'golpe constitucional'. Ora, ou é golpe ou é constitucional. É impossível que uma medida seja as duas coisas. Além disso, um golpe de Estado normalmente muda o regime - de totalitarismo para democracia, ou mesmo o contrário. Como se viu, não foi o que tivemos no país." (pág. 35/36)

"A Constituição japonesa de 1947 é um exemplo notável. Como o Japão saiu derrotado da Segunda Guerra Mundial, o texto foi fortemente influenciado pelos Estados Unidos. A Carta introduziu valores liberais, tais como os direitos de ir e vir, de liberdade de expressão e de livre associação. Instituiu ainda o habeas corpus, as eleições livres e o mecanismo de recall, que permite o afastamento de políticos eleitos de acordo com regras democráticas, bastando para isso que haja vontade popular. Um capítulo específico da Constituição estabelece que o país renuncia à participação em qualquer guerra, o que desarticulou definitivamente a cultura imperialista e belicista que antes predominava." (pág. 41)

"O brasileiro médio repete o clichê de que todo político é bandido e só defende os próprios interesses. Ainda assim, esse mesmo cidadão quer que o Estado se encarregue da gestão da sociedade, urra de cólera caso veja no Jornal Nacional que alguém está propondo a privatização dos Correios ou da Caixa Econômica Federal e acha inaceitável a possibilidade de que a Petrobras seja vendida. Reage com igual indignação quando o foco do debate é o ajuste na Previdência Social ou a flexibilização das leis trabalhistas. Ou seja: o brasileiro defende a preservação dos territórios em que os políticos atuam." (pág. 51)

"Em uma economia desenvolvida, há menos trabalho doméstico. Isso não ocorre porque o governo proibiu ou dificultou esse tipo de atividade, mas porque o mercado de trabalho oferece opções melhores aos trabalhadores. No Brasil, temos mais empregados domésticos porque para muitos trabalhadores, essa é a única alternativa. O problema, evidentemente, não está com o trabalho doméstico, com quem decidiu ser ou ter um empregado em casa, mas com as limitadas alternativas geradas por uma economia altamente regulamentada." (pág. 55/56)

"Segundo [Adam] Smith, uma economia próspera não surge de ações dos governos, mas sim de ações voluntárias de compradores e vendedores em mercados livres. Isso significa que nenhum grupo deve determinar artificialmente qual será a oferta ou a demanda de um produto ou serviço." (pág. 68)

"É de [Adam] Smith a frase: 'Nenhum país é próspero se a maior parte de sua sociedade é pobre ou miserável'." (pág. 76)

"A esquerda mundial e a esquerda brasileira sabem empregar a retórica política sem nexo com a realidade - e, quando convém, alteram a história e fatos para criarem novas realidade e retórica. Na retórica em questão o povo é iludido a crer que só existem duas opções: ou o Estado (o bonzinho) fica no controle de tudo, ou a oligarquia econômica do capital (grandes empresários malvados) se torna o controlador. Nessa visão, não há sequer menção da verdadeira opção defendida pelos defensores do livre mercado como Smith, Hayek e Mises. É justamente a omissão dessa opção na retórica populista da esquerda marxista que precisa ser combatida, no Brasil e no mundo." (pág. 81)

"A nova Constituição de 1988 contém artigos que representam todo o acúmulo de anseios por um sistema mais participativo que foram sufocados pelo regime militar, mas também traz consigo artigos que auferem direitos sociais excessivos, muito além das cláusulas utópicas contidas nas constituições de 1934 e de 1946. Mas o ponto que tornou a Constituição de 1988 a mais interventora entre todas as outras que já vigoraram na história do Brasil e que a colocou na contramão dos eventos históricos é o fato de que ela sepultou qualquer possibilidade de liberalismo econômico no Brasil." (pág. 90/91)

"Não existe apenas uma forma de liberalismo político - essa é uma ideia complexa que se configurou de vários modos em países distintos. Mas embora não seja tão simples definir o que é liberalismo, é bastante fácil definir o que não é: Estado interferindo na economia e na sociedade e se metendo na vida das famílias por meio de uma crescente e incontrolável burocracia nunca será liberalismo." (pág. 114)

"E aqui chego à resposta-título deste capítulo para a grande pergunta do livro: 'Por que somos um país atrasado?'. Uma das respostas é porque o país vem sendo governado por uma sucessão de oligarquias." (pág. 129)

"As oportunidades e não necessariamente a renda ou o capital é que precisam estar acessíveis a uma massa crítica de pessoas para se criar a percepção de que todos podem sair da pobreza através de seus próprios esforços. Caso contrário, as pessoas sentem que existem obstáculos intransponíveis travando suas vidas. Desenvolvem a percepção de que estão presos à pobreza ou à mediocridade por mecanismos que nada têm a ver com seus esforços ou talentos. Essa percepção torna-se um risco para a estabilidade de um país." (pág. 159)

"O conceito original de tirania era de um governo em que o líder máximo não havia recebido o poder de forma legalmente prescrita - ou seja, que não era um monarca eleito ou hereditário.
O termo é utilizado de maneira precisa em Édipo Rei, de Sófocles. Nessa tragédia grega, quando Édipo assume o trono de Tebas após desvendar o enigma da Esfinge, ele é chamado de 'tirano'. Não há a menor sombra de componente negativo nessa designação. No desenrolar da peça, no entanto, a identidade de Édipo é revelada e todos descobrem que ele é efetivamente o herdeiro do trono de Tebas. É, portanto, o rei. A propósito, a tradução literal do título da obra de Sófocles é Édipo Tirano. A troca para 'rei' ocorreu para se evitar interpretações equivocadas por parte do público contemporâneo." (pág. 187/188)