Título: Não espere pelo epitáfio!
Autor: Mario Sergio Cortella
Páginas: 138
Como o próprio autor afirma, é um livro de provocações filosóficas. São vários textos publicados pelo autor, agora reunidos num único volume.
Vale pelas citações de diversas figuras ilustres da história. Minha opinião pessoal (veja bem, opinião e não crítica, não tenho capacidade para criticar ninguém) é que alguns textos se perdem num emaranhado de personagens e citações. De A para B, B para C, C para D, são tantas as ramificações que, no final, acaba perdendo o sentido da discussão inicial.
Trechos interessantes:
"[...] o dramaturgo espanhol Jacinto Benavente [...] foi tão enfático ao dizer que 'ninguém aprende a viver pela experiência alheia; a vida seria ainda mais triste se, ao começarmos a viver, já soubéssemos que viveríamos apenas para renovar a dor dos que viveram antes'." (pág. 21)
"Voltaire, um dos grandes pensadores iluministas e hóspede eventual da prisão na Bastilha dos começos do século 18 por seus artigos contra governantes e clérigos, escreveu em Cândido que 'o trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade'." (pág. 29)
"É clássica uma pequena história, de muitos e diferentes modos recontada, que diz ter um sábio chinês adormecido e sonhado que era uma borboleta; nesse sonho, a borboleta também dorme e sonha ser um sábio chinês. Quando acordam, quem acorda? Quem acorda o quê? Quem era quem ao despertar? Qual era a realidade e qual o sonho?" (pág. 80)
"A novidade, mesmo aleatória, continua sendo o obscuro desejo de muita gente." (pág. 89)
"'Quem cora já está culpado; a verdadeira inocência não tem vergonha de nada' [Jean-Jacques Rousseau]" (pág. 96)
"Talvez G. B. Shaw estivesse certo ao propor que o homem razoável adapta-se ao mundo; o homem que não é razoável obstina-se a tentar que o mundo se lhe adapte. Qualquer progresso, portanto, depende o homem que não é razoável." (pág. 101)
"[...] Henry Ford dizia: 'a democracia de que sou partidário é aquela que dá a todos as mesmas possibilidades de êxito, segundo a sua capacidade. Aquela que repudio é a que pretende confiar ao número aquilo que pertence ao mérito'." (pág. 125)
quarta-feira, 26 de julho de 2017
quarta-feira, 19 de julho de 2017
O mundo ao lado
Título: O mundo ao lado
Autor: Arthur Simões
Páginas: 328
Dar a volta ao mundo de bicicleta, passando por mais de 40 países, cruzando os cinco continentes em pouco mais de 3 anos. Esta foi a aventura de Arthur Simões, um jovem paulista que, cansado da vida rotineira e sem perspectiva, resolve conhecer novas culturas, costumes e ampliar seus horizontes.
No livro são retratados os trechos da viagem, com comentários detalhados e imagens, mostrando as dificuldades encontradas, a ajuda de pessoas desconhecidas, os momentos tensos em países em guerra ou com grupos fanáticos, a miséria e a pobreza e também as belezas naturais. Enfim, uma grande viagem na qual o leitor pode se sentir também um viajante.
Trechos interessantes:
"A vida na cidade havia perdido completamente o sentido para mim. Ainda mais numa cidade como São Paulo, onde, até para os mais urbanos, muitas coisas não fazem sentido algum. Viver o momento e não se apegar a muitas coisas parecia ser o oposto do que a sociedade pregava. Eu não tinha planos de comprar um apartamento, nem um carro, nem de me endividar, nem de parecer mais inteligente, bonito e endinheirado do que eu realmente era nos círculos sociais da cidade. Eu apenas era eu, vivendo cada momento, e isso incomodava muita gente." (pág. 20)
"As casas eram pequenas e muito simples, feitas de adobe e sal, com telhados de zinco, cuja finalidade era apenas bloquear o vento e o frio, já que nunca chovia naquela região, uma das mais secas do mundo. Os trabalhadores haviam se acostumado com a vida salgada e, literalmente, insalubre. Não esperavam durar muito, já sabendo que dificilmente alcançariam os 50 anos de idade. No entanto, cada um deles tinha uma doçura que se opunha à árida paisagem. Eram pessoas tranquilas, serenas e muito hospitaleiras, capazes de oferecer o pouco que tinham para mim, em trocas de algumas histórias e informações do mundo, o que eles geralmente conseguiam apenas por meio de rádios de pilha." (pág. 65)
"A cultura valia pouco no lugar do qual eu vinha e isso começava a me conduzir a uma maior compreensão da terra onde eu nasci e do que era ser brasileiro. Infelizmente, essa constatação foi apenas a semente do que futuramente se tornaria uma grande decepção com a cultura do meu país." (pág. 72)
"Em Lima fiquei hospedado na casa de Micky [...]. Ela vivia com suas duas filhas, Cielo e Luna, em um bairro bacana de Lima. Numa manhã, ao conversar com Cielo, de apenas nove anos, percebi numa resposta infantil o que eu ainda não havia notado. Ela me perguntou: 'Arturo, por qué nunca cambia de pantalones?' ('Arthur, por que nunca troca de calças?'). [...] ...achando graça na pergunta, respondi: 'Cielo, quando moramos num só lugar, nos acostumamos a trocar de calças e ficar ao lado das mesmas pessoas, mas quando não temos um lugar fixo, como eu, trocamos de pessoas e apenas ficamos com as mesmas calças, pois ninguém terá tempo suficiente para notar que você tem apenas um par delas'." (pág. 89)
"Cerca de 200 quilômetros depois da fronteira, eu cheguei a Varanasi, também conhecida como Benares, cidade com mais de 5.000 anos de história. Ela é considerada sagrada entre os hindus, que deviam visitar a cidade pelo menos uma vez na vida. Assim como se banhar nas águas sagradas do Ganges. O sonho de todo indiano é ser queimado em uma das fogueiras à beira do Ganges e ter seus restos mortais jogados nesse rio sagrado. E, como na Índia há centenas de milhões de hindus com o mesmo sonho, diariamente, em um processo ininterrupto, são queimados milhares de corpos à beira do Ganges." (pág. 169)
"Ao final de meus dias na capital indiana, estava com tudo pronto para seguir para países que ainda eram incógnitas para mim. Informações confiáveis sobre Paquistão e Irã pareciam ser muito raras. Ao sair de Delhi, passei por uma banca de jornal e vi que a capa da Newsweek daquela semana era justamente sobre o Paquistão, com o título: 'O país mais perigoso do mundo não é o Iraque, é o Paquistão!'. E era para lá que eu seguia." (pág. 175)
"Países como Mianmar, Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão eram tão miseráveis que mal forneciam energia elétrica para seu povo. Quem quisesse ter esse luxo deveria ter um gerador de energia próprio em casa ou em seu negócio. Por isso, iluminação pública era algo simplesmente inexistente nesses países." (pág. 196)
"Fugindo de crianças e das pedras que elas jogavam em mim quando viam que eu não daria dinheiro algum, atravessei o país pedalando, ora ao lado de paisagens incríveis, ora ao lado de uma imensa miséria. O que havia de famoso e mais atrativo na África quase sempre já havia sido depredado pelo turismo em massa, que conseguia modificar praticamente qualquer lugar e deixar as pessoas acostumadas apenas a pedir esmolas e a viver de doações. Muitas vezes, evitava ir a alguns lugares classificados como 'atrações' quando descobria que não havia mais nada de original no local, mas apenas um teatro para atrair turistas e tirar o dinheiro deles. Era um mundo para inglês ver, e não era isso que me interessava." (pág. 246/247)
"Eu não era uma pessoa de briga, muito pelo contrário, no Brasil eu nunca me envolvia em nenhum conflito, mas, naquele continente, algo havia mudado em mim. Havia me tornado uma pessoa agressiva e sem paciência. Não deixava nenhuma provocação de lado e logo respondia à altura de quem quer que fosse. Não levava nenhum desaforo em minha mochila e sempre fazia questão de resolver tudo no momento. Não era algo bom, mas talvez fosse um efeito colateral daquele estilo de vida, nômade, sem lugar. Sabia que não podia deixar nada para amanhã." (pág. 268/269)
"Havia conseguido o que buscava, estava prestes a concluir a volta ao mundo que eu havia proposto anos atrás. No entanto, nunca havia pensado no que faria depois que tudo tivesse acabado. Isso não estava em meu projeto e a simples ideia de voltar para casa já me causava certa apreensão." (pág. 298)
"Neve é algo bonito de se ver, especialmente quando se está longe dela. Estar num lugar no qual não para de nevar só é bom quando se está numa estação de esqui, fora isso, pode ser algo realmente frustrante, particularmente quando mal se pode sair de casa." (pág. 314)
"Enquanto viajava pelo mundo, escutava que o Brasil estava mudando rapidamente e que ele seria, em poucos anos, uma potência mundial. Uma das maiores. Entretanto, ao chegar às terras brasileiras, eu via outra coisa. Vi o mesmo Brasil de sempre, com seu jeitinho malandro, suas festas, seus problemas sociais, suas trocas de favores, seus 'Você sabe com quem está falando?', sua corrupção e simplesmente não conseguia entender como um local desses poderia se tornar um país desenvolvido." (pág. 323/324)
Autor: Arthur Simões
Páginas: 328
Dar a volta ao mundo de bicicleta, passando por mais de 40 países, cruzando os cinco continentes em pouco mais de 3 anos. Esta foi a aventura de Arthur Simões, um jovem paulista que, cansado da vida rotineira e sem perspectiva, resolve conhecer novas culturas, costumes e ampliar seus horizontes.
No livro são retratados os trechos da viagem, com comentários detalhados e imagens, mostrando as dificuldades encontradas, a ajuda de pessoas desconhecidas, os momentos tensos em países em guerra ou com grupos fanáticos, a miséria e a pobreza e também as belezas naturais. Enfim, uma grande viagem na qual o leitor pode se sentir também um viajante.
Trechos interessantes:
"A vida na cidade havia perdido completamente o sentido para mim. Ainda mais numa cidade como São Paulo, onde, até para os mais urbanos, muitas coisas não fazem sentido algum. Viver o momento e não se apegar a muitas coisas parecia ser o oposto do que a sociedade pregava. Eu não tinha planos de comprar um apartamento, nem um carro, nem de me endividar, nem de parecer mais inteligente, bonito e endinheirado do que eu realmente era nos círculos sociais da cidade. Eu apenas era eu, vivendo cada momento, e isso incomodava muita gente." (pág. 20)
"As casas eram pequenas e muito simples, feitas de adobe e sal, com telhados de zinco, cuja finalidade era apenas bloquear o vento e o frio, já que nunca chovia naquela região, uma das mais secas do mundo. Os trabalhadores haviam se acostumado com a vida salgada e, literalmente, insalubre. Não esperavam durar muito, já sabendo que dificilmente alcançariam os 50 anos de idade. No entanto, cada um deles tinha uma doçura que se opunha à árida paisagem. Eram pessoas tranquilas, serenas e muito hospitaleiras, capazes de oferecer o pouco que tinham para mim, em trocas de algumas histórias e informações do mundo, o que eles geralmente conseguiam apenas por meio de rádios de pilha." (pág. 65)
"A cultura valia pouco no lugar do qual eu vinha e isso começava a me conduzir a uma maior compreensão da terra onde eu nasci e do que era ser brasileiro. Infelizmente, essa constatação foi apenas a semente do que futuramente se tornaria uma grande decepção com a cultura do meu país." (pág. 72)
"Em Lima fiquei hospedado na casa de Micky [...]. Ela vivia com suas duas filhas, Cielo e Luna, em um bairro bacana de Lima. Numa manhã, ao conversar com Cielo, de apenas nove anos, percebi numa resposta infantil o que eu ainda não havia notado. Ela me perguntou: 'Arturo, por qué nunca cambia de pantalones?' ('Arthur, por que nunca troca de calças?'). [...] ...achando graça na pergunta, respondi: 'Cielo, quando moramos num só lugar, nos acostumamos a trocar de calças e ficar ao lado das mesmas pessoas, mas quando não temos um lugar fixo, como eu, trocamos de pessoas e apenas ficamos com as mesmas calças, pois ninguém terá tempo suficiente para notar que você tem apenas um par delas'." (pág. 89)
"Cerca de 200 quilômetros depois da fronteira, eu cheguei a Varanasi, também conhecida como Benares, cidade com mais de 5.000 anos de história. Ela é considerada sagrada entre os hindus, que deviam visitar a cidade pelo menos uma vez na vida. Assim como se banhar nas águas sagradas do Ganges. O sonho de todo indiano é ser queimado em uma das fogueiras à beira do Ganges e ter seus restos mortais jogados nesse rio sagrado. E, como na Índia há centenas de milhões de hindus com o mesmo sonho, diariamente, em um processo ininterrupto, são queimados milhares de corpos à beira do Ganges." (pág. 169)
"Ao final de meus dias na capital indiana, estava com tudo pronto para seguir para países que ainda eram incógnitas para mim. Informações confiáveis sobre Paquistão e Irã pareciam ser muito raras. Ao sair de Delhi, passei por uma banca de jornal e vi que a capa da Newsweek daquela semana era justamente sobre o Paquistão, com o título: 'O país mais perigoso do mundo não é o Iraque, é o Paquistão!'. E era para lá que eu seguia." (pág. 175)
"Países como Mianmar, Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão eram tão miseráveis que mal forneciam energia elétrica para seu povo. Quem quisesse ter esse luxo deveria ter um gerador de energia próprio em casa ou em seu negócio. Por isso, iluminação pública era algo simplesmente inexistente nesses países." (pág. 196)
"Fugindo de crianças e das pedras que elas jogavam em mim quando viam que eu não daria dinheiro algum, atravessei o país pedalando, ora ao lado de paisagens incríveis, ora ao lado de uma imensa miséria. O que havia de famoso e mais atrativo na África quase sempre já havia sido depredado pelo turismo em massa, que conseguia modificar praticamente qualquer lugar e deixar as pessoas acostumadas apenas a pedir esmolas e a viver de doações. Muitas vezes, evitava ir a alguns lugares classificados como 'atrações' quando descobria que não havia mais nada de original no local, mas apenas um teatro para atrair turistas e tirar o dinheiro deles. Era um mundo para inglês ver, e não era isso que me interessava." (pág. 246/247)
"Eu não era uma pessoa de briga, muito pelo contrário, no Brasil eu nunca me envolvia em nenhum conflito, mas, naquele continente, algo havia mudado em mim. Havia me tornado uma pessoa agressiva e sem paciência. Não deixava nenhuma provocação de lado e logo respondia à altura de quem quer que fosse. Não levava nenhum desaforo em minha mochila e sempre fazia questão de resolver tudo no momento. Não era algo bom, mas talvez fosse um efeito colateral daquele estilo de vida, nômade, sem lugar. Sabia que não podia deixar nada para amanhã." (pág. 268/269)
"Havia conseguido o que buscava, estava prestes a concluir a volta ao mundo que eu havia proposto anos atrás. No entanto, nunca havia pensado no que faria depois que tudo tivesse acabado. Isso não estava em meu projeto e a simples ideia de voltar para casa já me causava certa apreensão." (pág. 298)
"Neve é algo bonito de se ver, especialmente quando se está longe dela. Estar num lugar no qual não para de nevar só é bom quando se está numa estação de esqui, fora isso, pode ser algo realmente frustrante, particularmente quando mal se pode sair de casa." (pág. 314)
"Enquanto viajava pelo mundo, escutava que o Brasil estava mudando rapidamente e que ele seria, em poucos anos, uma potência mundial. Uma das maiores. Entretanto, ao chegar às terras brasileiras, eu via outra coisa. Vi o mesmo Brasil de sempre, com seu jeitinho malandro, suas festas, seus problemas sociais, suas trocas de favores, seus 'Você sabe com quem está falando?', sua corrupção e simplesmente não conseguia entender como um local desses poderia se tornar um país desenvolvido." (pág. 323/324)
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Pássaro raro
Título: Pássaro raro
Autor: Anna Whinston-Donaldson
Páginas: 240
Este é um livro sobre perda e a maneira de tentar adaptar sua vida após esta perda. Jack, um garoto de doze anos, sai para brincar com os amigos num riacho próximo de sua casa. Uma tempestade se inicia e, o que era antes um pequeno riacho, se torna um caudaloso rio e Jack morre por afogamento.
Anna, sua mãe, se desespera pois era uma brincadeira comum, por diversas vezes sem nenhum incidente e, de repente, acontece uma tragédia dessas. O livro tenta mostrar o sentimento de perda que a mãe sente. Como a vida pode se transformar, de um momento para o outro, sem que você possa fazer nada para modificar a situação.
Trechos interessantes:
"Não sei como sei, parada ali na margem, que Jack se foi para sempre. Como uma marcha pode ser mudada tão de repente, ao se chamar pelo filho numa tarde tranquila e perceber, horrorizada, que ele está morto ou agonizando?" (pág. 46)
"Margaret diz algo, no escuro, que chega a ela como uma revelação: 'Todas as vezes em que Jack e eu dissemos: Este é o pior dos dias!, não era verdade. Este é o pior de todos os dias'." (pág. 57)
"Ninguém nunca me contou que o luto é tão parecido com a vergonha." (pág. 82)
"Margaret me conta que ela às vezes imagina que, no final do dia, Jack passará por ela, abrirá a porta do carro e sentará no seu lugar, obrigando-a a pular por cima dele, como costumava fazer. Porém, ela está parada sozinha no lugar deles na frente da escola. Abre a porta do carro, iça sua mochila pesada para o lugar de Jack e salta por cima dela. O assento está vazio, mas ela não senta ali. Fico imaginando quantas vezes por dia ela ainda para e pensa, assim como eu: Isso aconteceu mesmo? Parece tão chocante, impossível e estranho. Como alguém pode morrer, quando seu cereal predileto está no armário, as roupas da escola, guardadas na gaveta, ou quando ainda recebe correspondência?" (pág. 99)
"Todos já ouviram falar que é difícil um casamento sobreviver à perda de um filho. Não sei quais são as estatísticas e não tenho pressa em descobrir. Digamos que, mesmo fazendo pouco tempo da morte de Jack, tenho consciência de que a contagem regressiva para o fim de nosso casamento já começou." (pág. 134)
"Acho que eu não entendia que não se pode aplicar matemática ao luto. Perda é perda. Evidentemente, me dei conta de que tenho uma filha e um marido sadios. Eu os amo profundamente, mas a presença dos dois aqui não anula a perda do outro 'lá'." (pág. 160)
"É claro que, lá no fundo, só sou moralmente contra qualquer pai ou mãe ter de homenagear o local onde o filho está enterrado, porque não acho que mães deveriam ter de enterrar filhos. Nunca. Então, o túmulo de Jack em branco é, de certa forma, meu protesto silencioso." (pág. 190)
"Quando Jack tinha seis anos, certo dia, estacionamos na entrada e ele disse: 'Acho que talvez eu queira ser um missionário, mas acho que sou muito tímido'.
[...]
Fico imaginando, pela maneira como ele ainda toca a vida das pessoas, mesmo um ano após a morte, se Jack não se tornou missionário sem precisar dizer uma única palavra." (pág. 215)
Autor: Anna Whinston-Donaldson
Páginas: 240
Este é um livro sobre perda e a maneira de tentar adaptar sua vida após esta perda. Jack, um garoto de doze anos, sai para brincar com os amigos num riacho próximo de sua casa. Uma tempestade se inicia e, o que era antes um pequeno riacho, se torna um caudaloso rio e Jack morre por afogamento.
Anna, sua mãe, se desespera pois era uma brincadeira comum, por diversas vezes sem nenhum incidente e, de repente, acontece uma tragédia dessas. O livro tenta mostrar o sentimento de perda que a mãe sente. Como a vida pode se transformar, de um momento para o outro, sem que você possa fazer nada para modificar a situação.
Trechos interessantes:
"Não sei como sei, parada ali na margem, que Jack se foi para sempre. Como uma marcha pode ser mudada tão de repente, ao se chamar pelo filho numa tarde tranquila e perceber, horrorizada, que ele está morto ou agonizando?" (pág. 46)
"Margaret diz algo, no escuro, que chega a ela como uma revelação: 'Todas as vezes em que Jack e eu dissemos: Este é o pior dos dias!, não era verdade. Este é o pior de todos os dias'." (pág. 57)
"Ninguém nunca me contou que o luto é tão parecido com a vergonha." (pág. 82)
"Margaret me conta que ela às vezes imagina que, no final do dia, Jack passará por ela, abrirá a porta do carro e sentará no seu lugar, obrigando-a a pular por cima dele, como costumava fazer. Porém, ela está parada sozinha no lugar deles na frente da escola. Abre a porta do carro, iça sua mochila pesada para o lugar de Jack e salta por cima dela. O assento está vazio, mas ela não senta ali. Fico imaginando quantas vezes por dia ela ainda para e pensa, assim como eu: Isso aconteceu mesmo? Parece tão chocante, impossível e estranho. Como alguém pode morrer, quando seu cereal predileto está no armário, as roupas da escola, guardadas na gaveta, ou quando ainda recebe correspondência?" (pág. 99)
"Todos já ouviram falar que é difícil um casamento sobreviver à perda de um filho. Não sei quais são as estatísticas e não tenho pressa em descobrir. Digamos que, mesmo fazendo pouco tempo da morte de Jack, tenho consciência de que a contagem regressiva para o fim de nosso casamento já começou." (pág. 134)
"Acho que eu não entendia que não se pode aplicar matemática ao luto. Perda é perda. Evidentemente, me dei conta de que tenho uma filha e um marido sadios. Eu os amo profundamente, mas a presença dos dois aqui não anula a perda do outro 'lá'." (pág. 160)
"É claro que, lá no fundo, só sou moralmente contra qualquer pai ou mãe ter de homenagear o local onde o filho está enterrado, porque não acho que mães deveriam ter de enterrar filhos. Nunca. Então, o túmulo de Jack em branco é, de certa forma, meu protesto silencioso." (pág. 190)
"Quando Jack tinha seis anos, certo dia, estacionamos na entrada e ele disse: 'Acho que talvez eu queira ser um missionário, mas acho que sou muito tímido'.
[...]
Fico imaginando, pela maneira como ele ainda toca a vida das pessoas, mesmo um ano após a morte, se Jack não se tornou missionário sem precisar dizer uma única palavra." (pág. 215)
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