quarta-feira, 25 de março de 2020

Me leva mundão


Título: Me leva mundão
Autor: Maurício Kubrusly
Páginas: 400

O livro apresenta algumas curiosidades e histórias engraçadas encontradas pelo autor durante suas andanças pelo mundo. Em cada país é mostrado o lado pitoresco e algumas histórias que, para a nossa cultura, seriam no mínimo estranhas.

O lado humorístico do autor é bastante conhecido, embora eu ache que, em certas situações, fica parecendo uma coisa forçada. Pessoalmente acho que há um excesso de piadas e que, pra mim, ao invés de deixar a história mais divertida, fica mais maquiada.

Trechos interessantes:

Se for a um restaurante siciliano por aqui, nunca peça algum prato com frango. Se pedir, alguém, com ar sério, vai avisar:
—Siciliano não come aves.
Parece ofensa, cuidado. (pág. 16)

—Aqui as coisas são mais abertas que em outros países muçulmanos. Por exemplo: aqui se permite que uma irmã faça uma sugestão, apresente uma amiga dela para os pais, sugerindo que poderia se tornar a noiva do irmão dela. A mãe também pode indicar a filha para uma amiga que tenha um filho. Mas a religião tradicional não permite o contato direto da mulher que pretende casar com algum possível pretendente. É uma atribuição dos pais.
—E você tem de aceitar a escolha do seu pai, sem nem sequer ter visto quem virá a ser seu marido pro resto da vida?
—É a tradição. (pág. 90)

Lembra como são os craques do sumô? Aquela elegância com uns... 150 quilos, enormes, arredondados, que andam adernando pra direita e pra esquerda, como um grande navio carregado em mar bravio.
Pois bem: eles são o objeto do desejo... ou melhor objetão do desejinho (elas são bem miúdas) de muitas meninas. Pode acreditar. Há fotos de casamentos desses estranhos pares. (pág. 118/119)

O rai é sim, positivo, concordância. O não... nem se usa. É considerado muito indelicado, só mesmo em situações limite. Mas o japonês é determinado: o que decidiu, vale. Exemplo: aviso ao nosso piloto, através da intérprete: não quero almoçar em lanchonete, hoje precisamos comer dignamente, num restaurante de verdade. Chega de fast food. Ela traduz e ele: Rai! Rai!! Pouco depois, estaciona exatamente onde? Claro: diante de uma lanchonete. Ele já tinha se programado pra isso, não tem como alterar. Reclamo com ele, via intérprete. E o que ele responde? Claro: Rai! Rai!! (pág. 137)

O governo criou um programa pra evitar que as mães de meninas joguem as recém-nascidas no lixo. É que na Índia – como no Japão ou na China – filho homem é o que todos (pais e mães) querem. Garantir a linhagem da família e o sustento quando os pais envelhecerem. Muitas fazem exame pouco depois de confirmada a gravidez. Se for menina... aborto e lixo. É o feticídio. Que teria ocasionado a morte de 10 milhões de recém-nascidos nas últimas décadas. Uma das respostas do governo: proibir uso de ultrassom pra checar o sexo do feto. Como o morticínio continuava, surgiu um programa de berços públicos – e anônimos, claro. Tal qual nas rodas dos conventos de antiguidade, a mãe que não quer a filha vai até lá, tarde da noite, ruas desertas, e deixa a recém-nascida. Sem testemunhas, sem cobranças. E, principalmente, sem recibo. (pág. 147)

A Copa do Mundo está acontecendo aqui, na França, e os restaurantes não querem saber de futebol? A cidade lotada de torcedores, turistas. Não tem telão nos restaurantes. Não dá pra entender. (pág. 243)

Um instante depois, todas as pessoas do restaurante olhavam para ele... que sabia que o homem de preto permanecia parado bem atrás da cadeira que ele tinha escolhido. E todas as pessoas ali ficaram sabendo que ele devia alguma coisa a alguém. Enquanto a dívida não fosse saldada, Basílio teria de conviver com aquela sombra negra sempre que saísse de casa. Não tinha escapatória.
Em Portugal, assim como na Espanha, o Homem de Fraque, ou Homem de Preto, é uma instituição especializada em cobrança de dívidas. E o sistema que inventaram para constranger quem deve é bem... escandaloso – embora prime pelo silêncio. Em nenhuma situação o agente fala. Fica apenas aquela imagem ao lado do devedor. (pág. 308)

Naquele mar de parreiras, todos os milhões de pés estavam plantados em fila indiana. E os funcionários cuidavam de cada um deles. Verdade: um por um. E no começo de cada fileira de parreiras existe uma roseira. Motivo: a roseira é mais sensível a pragas do que a parreira. Assim, se alguma praga atacar, a roseira fica logo doente. E denuncia que é preciso, urgentemente, proteger as parreiras. (pág. 349)