Autor: Alberto Ortenblad
Páginas: 140
Procurando um livro de ciclismo, me deparei com este (que nada tem a
ver com ciclismo), cujo título me chamou a atenção e a fotografia mostrada na
capa também me entusiasmou. Não tive dúvidas, comprei-o na hora. E agora posso
dizer que não me arrependi.
O autor mostra relatos de suas aventuras no montanhismo, não se
limitando apenas a mostrar a ação prática, mas apresenta algumas reflexões com
o seu contato com a natureza. Como ele bem diz na orelha do livro “É um livro
sobre o mundo natural, disfarçado como uma obra de contos”.
Trechos interessantes:
O título deste livro é Travessia.
Adoro esta palavra, tem uma conotação de trânsito, onde o percurso é mais
relevante do que a saída ou a chegada. Como conta Fernando Pessoa: É o tempo da travessia: e, se não ousarmos
fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. Mas tem
também o sentido literal de atravessar um território na natureza — e isto,
afinal, é do que trata este livro. (pág. 9)
Provavelmente você já sabe, mas convém comentar que é comum
encontrarmos livros protegidos por uma caixa, escondidos nos cumes das
montanhas mais importantes. Têm o hábito de acolher as impressões dos
montanhistas: algumas banais e outras divertidas e emocionadas. (pág. 23)
Vale lembrar que o Roraima é predominantemente venezuelano, talvez 75%
dele. Algo como 20% pertence à Guiana — e só 5% ficam no Brasil. Assim, o
famoso Ponto Tríplice, onde os três países convergiriam, parece ser antes obra
da imaginação do que da geografia. Por sinal, duvide das informações
geográficas, quase sempre estarão erradas. Levei muito tempo para entendê-las e
corrigi-las. (pág. 33)
Convém explicar que a trilha do Kilimanjaro — na realidade, uma antiga
estrada — possui três locais de acampamento, todos bastante bem instalados. Mandara
foi o primeiro deles, que dividi com suíços, onde mal acordei ao descobrir que
um rato roía minha orelha. O segundo, Horombo, fica na borda da encosta,
olhando tanto para as verdes terras baixas como para o deserto alpino de onde
emerge a montanha. Kibo, o último deles, já fica acima de 4.000 m e só é
permitido pousar lá até a tarde, quando começam a chegar os candidatos à
próxima ascensão. (pág. 39)
Como comparação, Fernando de Noronha — com área terrestre trezentas
vezes menor [que Galápagos] e marinha mil vezes menor — é visitado por pouco
mais de 50 mil turistas/ano. Mas nele residem apenas três mil pessoas. As
mulheres grávidas só podem ter os filhos no continente. A estes é permitido
residir na ilha, porém seus filhos devem emigrar, só retornando após o
falecimento dos pais. (pág. 61)
Acho horrível a mania americana de colocar um cifrão em todos os
aspectos da vida. Para mim, os parques valem tanto quanto toda a nossa
natureza, pois possivelmente é tudo o que nos restará depois que a ganância e a
ignorância devastarem o meio ambiente. (pág. 72)
Assim como a antiga capital Goiás Velho, Pirenópolis foi o berço do
coronelismo goiano. Depois de um passado recente de decadência, a vila foi
restaurada, tornando-se atração para os turistas afluentes das cidades
próximas, Brasília e Goiânia. Pirenópolis é um caso raro que reúne natureza,
cultura, história e lazer: cachoeiras e serras, arquitetura e culinária, prosa
e festa. (pág. 95)
Definida a região, o caçador deve abrir picadas para acessá-la, uma
para chegar e outra para escapar. Se for experiente, disfarçará o seu rastro,
evitando galhos quebrados e gramas amassadas. Normalmente, ele elegerá um local
limpo, com uma árvore alta, como numa pequena clareira. A razão é a seguinte:
nas semanas seguintes ele lá instalará sua ceva e sua espera. (pág. 131)