terça-feira, 23 de abril de 2019

Fahrenheit 451


Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Páginas: 216

A história do livro se passa em um futuro incerto onde a função dos bombeiros não é apagar incêndios, mas sim produzi-los com a função de queimar livros já que estes são considerados uma ameaça ao sistema e possuí-los ou simplesmente lê-los é considerado uma infração e a pena é a queima total dos mesmos.
Nessa conjuntura encontramos um bombeiro que, contrariando seu chefe e os colegas, resolve questionar esse comportamento e passa a se interessar pelos livros, tornando-se um inimigo do sistema. O livro é um clássico e já foram feitos dois filmes sobre o mesmo.

Trechos interessantes:

Em 1933, quando os nazistas queimaram em praça pública livros de escritores e intelectuais como Marx, Kafka, Thomas Mann, Albert Einstein e Freud, o criador da psicanálise fez o seguinte comentário a seu amigo Ernest Jones: “Que progressos estamos fazendo. Na Idade Média, teriam queimado a mim; hoje em dia, eles se contentam em queimar meus livros”. (pág. 11)

— Bem — disse ela —, tenho dezessete anos e sou doida. Meu tio diz que essas duas coisas andam sempre juntas. Ele disse: quando as pessoas perguntarem sua idade, sempre diga que tem dezessete anos e que é maluca. (pág. 25)

— Por que você não está na escola? Todo dia eu a vejo vagando por aí.
— Ah, eles não sentem a minha falta — disse ela. — Dizem que sou antissocial. Não me misturo. É tão estranho. Na verdade, eu sou muito social. Tudo depende do que você entende por social, não é? Social para mim significa conversar com você sobre coisas como esta. — Ela chocalhou algumas castanhas que haviam caído da árvore do jardim da frente. — Ou falar sobre quanto o mundo é estranho. É agradável estar com as pessoas. Mas não vejo o que há de social em juntar um grupo de pessoas e depois não deixá-las falar, você não acha? Uma hora de aula pela tevê, uma hora jogando basquete ou beisebol ou correndo, outra hora transcrevendo história ou pintando quadros e mais esportes, mas, sabe, nunca fazemos perguntas; pelo menos a maioria não faz; eles apenas passam as respostas para você, pim, pim, pim, e nós, sentados ali, assistindo a mais quatro horas de filmes educativos. Isso para mim não é nada social. (pág. 49/50)

Tarde da noite, ele olhou para Mildred. Ela estava acordada. Havia uma minúscula dança melódica no ar, a radioconcha estava novamente enfiada em sua orelha, e ela escutava pessoas distantes em lugares distantes, os olhos arregalados e fixos no abismo negro do teto acima dela.
Não havia uma velha anedota sobre a esposa que falava tanto ao telefone que o marido, desesperado, correu até a loja mais próxima e telefonou para ela para perguntar o que havia para o Jantar? Ora, então, por que ele não comprava uma estação transmissora para radioconchas, para conversar tarde da noite com sua mulher, murmurar, sussurrar, gritar, bradar, berrar? Mas o que ele sussurraria, o que gritaria? O que poderia dizer?
E de uma hora para outra ela ficou tão estranha que ele mal acreditou que a conhecesse, Ele estava na casa de outra pessoa, como naquelas outras piadas que se contavam sobre o cavalheiro que volta bêbado para casa, muito tarde da noite, abre a poria errada, entra num quarto errado, deita-se na cama com uma estranha, acorda muito cedo e sai para o trabalho sem que nenhum dos dois perceba o engano. (pág. 63/64)

— Às vezes pode levar uma vida inteira para um homem colocar seus pensamentos no papel, depois de observar o mundo e a vida, e aí eu chego e, em dois minutos, bum! Está tudo terminado.
 – Me deixe em paz — disse Mildred. — Eu não fiz nada.
— Deixar você em paz! Tudo bem, mas como eu posso ficar em paz? Não precisamos que nos deixem em paz. Precisamos realmente ser incomodados de vez em quando. Quanto tempo faz que você não é realmente incomodada? (pág. 74)

Se você não quiser que se construa uma casa, esconda os pregos e a madeira. Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Deixe que ele se esqueça de que há uma coisa como a guerra. Se o governo é ineficiente, despótico e ávido por impostos, melhor que ele seja tudo isso do que as pessoas se preocuparem com isso. (pág. 84)

— Eu posso conseguir livros.
Você estará se arriscando muito.
Este é o lado bom de morrer; quando você não tem mais nada a perder, corre o risco que quiser. (pág. 110)

A maioria de nós não pode sair correndo por aí, falar com todo mundo, conhecer todas as cidades do mundo. Não temos tempo, dinheiro ou tantos amigos assim. As coisas que você está procurando, Montag, estão no mundo, mas a única possibilidade que o sujeito comum terá de ver noventa e nove por cento delas está num livro. (pág. 111)

Quando eu era jovem, Montag, eu atirava minha ignorância na cara das pessoas. Elas me surravam com varas. Quando cheguei aos quarenta, minha faca cega já estava muito bem afiada para mim. Se você esconder sua ignorância, ninguém lhe baterá e você nunca irá aprender. (pág. 132)

Isto está acontecendo comigo — disse Montag.
— Que surpresa desagradável — disse Beaty. Pois todos hoje pensam, têm absoluta certeza de que nada acontecerá comigo. Os outros morrem. Eu continuo. Não há consequências nem responsabilidades. Mas acontece que . Mas não falemos delas, não é? No momento em que as consequências o alcançam, é tarde demais, não é, Montag?  (pág. 144/145)

Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando você morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, em algo que é como você depois que suas mãos passaram por ela. A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O aparador de grama podia muito bem não ter estado ali; o jardineiro estará lá durante uma vida inteira. (pág. 190)