segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O pesadelo

Título: O pesadelo
Autor: Lars Kepler
Páginas: 446

O corpo de uma mulher jovem foi encontrado num barco, próximo a Estocolmo. As aparências dizem que não, mas ela foi assassinada. No dia seguinte um homem é encontrado morto, pendurado num lustre num apartamento de pé-direito alto. As aparências dizem que não, mas ele cometeu suicídio. Há alguma relação entre essas duas mortes?

Este é somente o início de uma empolgante história de muito suspense e reviravolta. Ainda mais quando o assassino descobre que matou a mulher errada... Enfim, um livro policial com muita adrenalina do começo ao fim. O livro é ambientado na Suécia, o que garante pelo menos originalidade nos nomes das pessoas e locais.

Trechos interessantes:

"-Então, como acha que ele morreu?
-Acho que ele apertou o laço ao redor do pescoço - respondeu em voz baixa.
-Como ele conseguiu colocar o laço ao redor do pescoço?
-Não sei... Talvez tenha precisado de ajuda.
-Que tipo de ajuda?
A senhora revirou os olhos, e por um instante Joona pensou que ela iria desmaiar. Em vez disso, ela se firmou colocando uma das mãos na parede, depois o encarou.
Suavemente, ela disse:
-Sempre há pessoas prestativas por perto." (pág. 36)

"Ver o corpo morto de um ente querido é impiedoso - o maior medo de todos. Os especialistas dizem ser um passo necessário no processo do luto. Joona lera que assim que uma identificação é feita há certo tipo de libertação. Não é mais possível sustentar fantasias de que a pessoa ainda vive. Esses tipos de fantasias e esperanças levam apenas a frustração e vazio.
Essas não passam de palavras vazias, pensa Joona. A morte é horrível e nunca dá a você nada em troca." (pág. 65)

"-Você pode juntar tudo que encontrar, todos os telefonemas feitos na última semana? Todas as mensagens de texto? E os saques bancários? Todas essas coisas: recibos, bilhetes de ônibus, reuniões, atividades, horas de trabalho...
-Certamente posso!
-Por outro lado, talvez você queira apenas esquecer tudo isso - diz Joona. -Não está na hora da sua fisioterapia?
-Você está brincando? - reage Erixson, quase sem conseguir conter a indignação. -Aliás, o que é fisioterapia senão desemprego disfarçado?" (pág. 129/130)

"A empregada estivera lá para limpar o apartamento, arejar os cômodos, pegar a correspondência e trocar os lençóis.
Os dois sabem que isso não é incomum depois de uma morte repentina. As pessoas se recusam a aceitar que a vida vai mudar. Elas mantêm a antiga rotina."(pág. 169)

"Disa pega sua taça e diz relaxada:
-É que tem um cara no museu que está me convidando para jantar há seis meses.
-As pessoas ainda convidam as outras para jantar atualmente?" (pág. 189)

"Axel vai até seu bar e tira uma das mais caras garrafas de uísque de sua coleção. É um Macallan 1939, do primeiro ano da Segunda Guerra Mundial. Ele serve-se de meio copo, depois vai ao sofá e se senta. Escuta a música com os olhos fechados. A voz jovem de Bowie e o piano descuidado. Ele sente o aroma de barris de carvalho, reservatórios pesados e adegas escuras, palha e cítricos. Ele bebe e o álcool forte queima seus lábios enquanto enche sua boca. Conservando seu sabor precioso, esse uísque tem esperado décadas: gerações, mudanças de governo, guerra e paz." (pág. 366)

"-[...]As pessoas dizem que Paganini odiava sua aparência... Eu pessoalmente acredito que ele vendeu a alma ao diabo para que outros o adorassem. Ele chamava a si mesmo de macaco, mas quando tocava as mulheres se arrastavam para ele. Valia o preço. Ele tocava de forma tão inacreditável que as pessoas diziam sentir o fogo do inferno ao redor dele." (pág. 411)

domingo, 15 de outubro de 2017

Mulherzinhas

Título: Mulherzinhas
Autor: Louisa May Alcott
Páginas: 310

Assisti ao filme "Quatro destinos" e, como gosto de filmes antigos, me identifiquei logo com ele. Só muito depois é que vim a saber que o filme era baseado em um livro (Mulherzinhas). Bem depois li "O senhor March" e - não sabia - era uma espécie de continuação do livro Mulherzinhas. Depois de tudo isso é que, finalmente, deparo-me com o livro em questão.

O livro relata a vida de uma mãe e quatro filhas durante a Guerra Civil Americana. O pai estava na guerra enquanto mãe e filhas tentam levar a vida da melhor maneira possível, enfrentando as tribulações diárias, as doenças, as tristezas e desilusões. Era uma época de muita inocência e pureza, onde, apesar da pobreza e dificuldade, todos se ajudavam e com isso, a vida tornava-se mais agradável.

Trechos interessantes:

"-Você tem de usar luvas, ou então eu não vou - gritou Meg decidida. -As luvas são mais importantes do que qualquer outra coisa. Eu ficaria mortificada se você fosse sem luvas.
-Então vou ficar onde estou.
-Você não pode pedir luvas novas a mamãe, elas são muito caras e você é descuidada demais. Ela disse, quando você estragou as outras, que não compraria mais nenhuma neste inverno. Será que você não pode dar um jeito para que elas fiquem apresentáveis? - perguntou Meg, ansiosa.
-Posso segurá-las dobradas na mão, assim ninguém vai saber o quanto estão manchadas. É tudo o que posso fazer. Não! Vou dizer como a gente pode dar um jeito: cada uma usa uma luva boa e segura uma ruim, entendeu?" (pág. 39)

"-Meu nome é Theodore, mas eu não gosto, porque os colegas me chamam de Dora, então eu mandei que me chamassem de Laurie, em vez do outro nome.
-Eu também detesto o meu nome, é tão sentimental. Eu queria que todo mundo dissesse Jo, em vez de Josephine. Como você fez para que os garotos parassem de chamá-lo de Dora?
-Eu bati neles.
-Já que não posso bater na tia March, acho que vou ter de aguentar isso." (pág. 45)

"Jo por acaso agradara a tia March, que era coxa e precisava de uma pessoa ativa para cuidar dela. A velha senhora sem filhos havia uma vez se oferecido para adotar uma das meninas quando ocorreram os problemas, e ficou muito ofendida por seu oferecimento ter sido recusado. Alguns amigos disseram aos Marches que eles tinham perdido toda a oportunidade de serem lembrados no testamento da velha senhora rica; mas os Marches, que não eram deste mundo, apenas disseram:
-Não daríamos nossas filhas nem por uma dúzia de fortunas. Ricos ou pobres, vamos ficar juntos e seremos felizes uns com os outros." (pág. 56)

"-A senhora quer dizer que está contente por eu ter sido humilhada na frente da escola toda? - exclamou Amy.
-Eu jamais escolheria essa maneira de corrigir um erro - replicou sua mãe -, mas não tenho certeza se não lhe fará mais bem do que um método mais brando. Você está começando a ficar muito convencida, querida, e é mais do que tempo de se empenhar em corrigir isso. Você tem uma porção de pequenos talentos e virtudes, mas não há necessidade de exibi-los, pois a vaidade estraga o caráter mais excelente. Não há muito perigo de que o verdadeiro talento ou a bondade sejam ignorados por muito tempo. Mesmo se forem, a consciência de tê-los e de empregá-los bem deve satisfazer a pessoa, e o grande encanto de qualquer dom é a modéstia." (pág. 98)

"-[...] Jo, querida, todos nós temos as nossas tentações, algumas bem maiores do que a sua, e muitas vezes leva-se a vida toda para vencê-las. Você acha que seu temperamento é o pior do mundo, mas o meu antigamente era exatamente igual ao seu.
-O seu, mamãe? Ora, a senhora nunca fica com raiva! - E, por um momento, a surpresa fez Jo esquecer o remorso.
-Há quarenta anos tento corrigir meu temperamento e consegui apenas controlá-lo. Tenho raiva quase todos os dias de minha vida, Jo, mas aprendi a não demonstrá-la." (pág. 110)

"Minhas filhas queridas, tenho ambições por vocês, mas não de que tenham sucesso na sociedade - casem com homens ricos apenas porque são ricos, ou tenham casas suntuosas, que não são verdadeiros lares porque falta amor. Dinheiro é uma coisa necessária e preciosa - e quando bem usado, algo nobre -, mas quero que nunca pensem nele como a primeira ou a única meta pela qual lutar. Eu preferia vê-las casadas com homens pobres, se estivessem felizes, amadas, satisfeitas, a que fossem rainhas em seus tronos, mas sem amor-próprio e paz." (pág. 133)

"A pobreza raramente desencoraja um apaixonado sincero. Algumas das mulheres mais honradas e melhores que conheço foram moças pobres, mas tão dignas de ser amadas que não ficaram solteironas. Deixem isso ao tempo. Façam feliz este lar, de modo que possam estar preparadas para ter o seu próprio, se ele lhes for oferecido, e satisfeitas aqui, se ele não o for." (pág. 133)

"Tenham horas regulares para o trabalho e para a diversão; façam com que cada dia seja ao mesmo tempo útil e agradável e provem que vocês compreendem o valor do tempo, empregando-o bem. Assim, a juventude será deliciosa, a velhice trará poucos arrependimentos e a vida se tornará um belo sucesso, apesar da pobreza." (pág. 158)

"Os olhos de Jo brilharam, pois é sempre agradável quando acreditam na gente; e o elogio de um amigo é sempre mais delicioso que uma dúzia de lisonjas de jornal." (pág. 199)

"-Tenho pensado muito ultimamente sobre meu 'monte de defeitos', e ser egoísta é o maior de todos, por isso vou me esforçar para curar-me disso, se puder. Beth não é egoísta, e é por isso que todos gostam dela e se sentem tão mal ao pensar em perdê-la. As pessoas não sentiriam nem a metade por mim, se eu estivesse doente, e não mereço que fiquem, mas gostaria que muitos e muitos amigos me amassem e sentissem a minha falta, por isso vou tentar ser como Beth tanto quanto puder. Tenho tendência a esquecer minhas resoluções, mas se tivesse sempre comigo algo que as lembrasse, acho que me sairia melhor." (pág. 259)

"-Dinheiro é uma coisa boa e útil, Jo, e espero que minhas filhas nunca sintam muito amargamente sua falta, nem fiquem tentadas demais por ele. Eu gostaria que John estivesse solidamente estabelecido em algum bom negócio, que lhe desse um rendimento suficiente para livrá-lo de dívidas e sustentar Meg com conforto. Não ambiciono uma esplêndida fortuna, uma posição invejável ou um grande nome para minhas filhas. Se a posição e o dinheiro acompanharem o amor e a virtude, eu os aceitarei de bom grado, e ficarei contente com a boa sorte de vocês; mas sei, por experiência, quanta felicidade genuína pode haver numa casinha simples, onde se ganha o pão de cada dia, e algumas privações fazem doces os poucos prazeres. Estou satisfeita de ver Meg começar modestamente, pois, se não estou enganada, ela será rica com a posse do coração de um homem bom, e isso é melhor que uma fortuna." (pág. 262/263)