Título: A elegância do ouriço
Autor: Muriel Barbery
Páginas: 350
Renée Michel é a zeladora de um prédio luxuoso em Paris. Mas ela não é como a maioria das zeladoras. Ela não vê televisão, tem um gato chamado Leon e uma paixão incrível pela leitura. Renée é uma zeladora culta mas a última coisa que ela quer é mostrar isso, para todos ela quer passar a ideia de que é uma zeladora comum.
Quando um novo morador muda-se para o hotel seu plano ameaça ruir já que o Sr. Ozu (o novo morador) suspeita que ela é muito mais que uma simples empregada. Será que vale a pena continuar fingindo ser uma pessoa comum ou seria melhor entregar os pontos e desfrutar de uma amizade conjunta?
Trechos interessantes:
"Aparentemente, de vez em quando os adultos têm tempo de sentar e contemplar o desastre que é a vida deles. Então se lamentam sem compreender e, como moscas que sempre batem na mesma vidraça, se agitam, sofrem, definham, se deprimem e se interrogam sobre a engrenagem que as levou ali aonde não queriam ir." (pág. 19)
"Aprendi a ler sem ninguém saber. A professora ainda repetia as letras para as outras crianças, e eu já conhecia havia muito tempo a solidariedade que tece os sinais escritos, suas infinitas combinações e os sons maravilhosos que tinham me investido naquele local, no primeiro dia, quando ela dissera meu nome. Ninguém soube. Li como uma alucinada, primeiro escondido, depois, quando o tempo normal da aprendizagem me pareceu superado, na cara de todo mundo mas tomando o cuidado de dissimular o prazer e o interesse que tirava daquilo." (pág. 45)
"Os que sabem fazer fazem, os que não sabem fazer ensinam, os que não sabem ensinar ensinam aos professores, e os que não sabem ensinar aos professores fazem política." (pág. 57)
"O gato, dorme.
Repito, para que não fique nenhuma ambiguidade: O gato vírgula dorme.
O gato, dorme.
A senhora poderia, receber.
De um lado, temos este fantástico uso da vírgula que, tomando liberdades com a língua, pois em geral não se põe vírgula antes de locução conjuntiva aditiva, magnifica a forma." (pág. 116)
"Todas as famílias felizes se parecem, mas as famílias infelizes o são cada uma a seu jeito é a primeira frase de Ana Karenina, que, como toda boa concierge, eu não deveria ter lido, assim como não me é conferido o direito de ter estremecido por acaso ao ouvir a segunda parte dessa frase, num momento de graça, sem saber que era de Tolstoi, pois, se as pessoas do povo são sensíveis à grande literatura sem conhecê-la, a literatura não pode pretender ter essa visão abrangente em que as pessoas instruídas a colocam." (pág. 144)
"A sra. Michel tem a elegância do ouriço: por fora, é crivada de espinhos, uma verdadeira fortaleza, mas tenho a intuição de que dentro é tão simplesmente requintada quanto os ouriços, que são uns bichinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes." (pág. 152)
"Mamãe anunciou ontem à noite, no jantar, como se fosse um motivo para o champanhe correr a rodo, que fazia dez anos exatos que ela havia começado sua 'aanáálise'. Todos concordarão em dizer que é ma-ra-vi-lho-so! Acho que só mesmo a psicanálise para concorrer com o cristianismo em matéria de amor aos sofrimentos que duram. O que mamãe não diz é que também faz dez anos que toma antidepressivos. Mas, visivelmente, não liga uma coisa à outra. Acho que não é para aliviar suas angústias que toma antidepressivos, mas para suportar a análise." (pág. 176)
"Há sempre a via a facilidade, embora eu repugne tomá-la. Não tenho filhos, não assisto televisão e não acredito em Deus, e são esses todos os sendeiros que os homens pegam para que a vida lhes seja mais fácil. Os filhos ajudam a diferir a dolorosa tarefa de enfrentar a si mesmo, e depois os netos que se virem. A televisão distrai da extenuante necessidade de construir projetos com base no nada de nossas existências frívolas; embaindo os olhos, ela livra o espírito da grande obra do sentido. Deus, enfim, acalma nossos temores de mamíferos e a insuportável perspectiva de que nossos prazeres um dia chegam ao fim. Assim, sem futuro nem descendência, sem pixels para embrutecer a cósmica consciência do absurdo, creio poder dizer que não escolhi a via da facilidade." (pág. 187)
"Então, de repente pensei: Théo talvez tenha vontade de queimar carros, mais tarde. Porque é um gesto de cólera e de frustração, e talvez a maior cólera e a maior frustração não seja o desemprego, não seja a miséria, não seja a ausência de futuro: seja a sensação de não ter cultura, porque a pessoa está dilacerada entre culturas, símbolos incompatíveis. Como existir se não sabemos onde estamos?" (pág. 276/277)
quarta-feira, 26 de abril de 2017
sábado, 22 de abril de 2017
A king in hiding
Título: A king in hiding
Autor: Fahim Mohammad, Sophie Le Callennec e Xavier Parmentier
Páginas: 228
Este foi o primeiro livro em inglês que li até o fim. Dadas as minhas limitações e dificuldades com o idioma, considerei o resultado satisfatório. Para estimular a leitura, escolhi um livro com uma linguagem não muito complexa e com um assunto que me agradava.
O livro conta a história de Fahim, um garoto de Bangladesh que, devido aos problemas em seu país, torna-se um refugiado político e vai viver na França com seu pai. Ali, mesmo sendo um excelente jogador de xadrez e vencendo alguns torneios, encontra dificuldade em se estabelecer legalmente no país, dependendo dos favores de muitos e sonhando o dia em que poderia ter a cidadania reconhecida.
Trechos interessantes:
"A man came up to me:
'Would you like me to teach you?'
I didn't dare disappoint him.
'Yes...', I whispered.
He went off to fetch a large wooden board, put pieces on it one by one, according to some mysterious rule, and started to explaim. I listened, but it was complicated. So I said nothing and stifled my yawns so as not to be rude." (pág. 3)
"My father explained to Nagy and Diana that we had to carry on to Madrid. They found us a bus, but it didn't go to Madri direct: it stopped in France and we would have to change in Paris. I didn't want to go to France, I didn't even want to travel through France. A friend in Bangladesh had told me that in france they eat dogs. I tried to reassure myself by thinking about Zinedine Zidane: perhaps it was eating dog that made him so good? But Zidane or no Zidane, there was no way I was going to eat dog." (pág. 35)
"Like me, my father goes to school: he has French lessons. He never misses a lesson, and is absolutely determined to learn the language in order to 'integrate'. But he makes lots of mistakes and gets his words muddled up. For instance, one lunchtime in the canteen he hears someone say:
'Bon appétit!'
So after that he says it all the time to everyone, in the lobby, on the stairs, in the garden:
'Bon appétit! Bon appétit! Bon appétit!'
He thinks it means 'hello'. It makes me laugh." (pág. 78/79)
"Xavier, tell us the story of Nimzowitsch and the cigar.
'At a tournament, Nimzowitsch's opponent rested a cigar on the edge of the chessboard. Nimzowitsch, who detested the smell of tobacco, demanded that the referee should enforce the ban on smoking. The player with the cigar protested that he hadn't lit the cigar and therefore wasn't smoking, and the referee was force to concede that he was in the right. Whereupon Nimzowitsch retorted:'You know very well that in chess the threat is more powerful than its execution!" (pág. 148)
Autor: Fahim Mohammad, Sophie Le Callennec e Xavier Parmentier
Páginas: 228
Este foi o primeiro livro em inglês que li até o fim. Dadas as minhas limitações e dificuldades com o idioma, considerei o resultado satisfatório. Para estimular a leitura, escolhi um livro com uma linguagem não muito complexa e com um assunto que me agradava.
O livro conta a história de Fahim, um garoto de Bangladesh que, devido aos problemas em seu país, torna-se um refugiado político e vai viver na França com seu pai. Ali, mesmo sendo um excelente jogador de xadrez e vencendo alguns torneios, encontra dificuldade em se estabelecer legalmente no país, dependendo dos favores de muitos e sonhando o dia em que poderia ter a cidadania reconhecida.
Trechos interessantes:
"A man came up to me:
'Would you like me to teach you?'
I didn't dare disappoint him.
'Yes...', I whispered.
He went off to fetch a large wooden board, put pieces on it one by one, according to some mysterious rule, and started to explaim. I listened, but it was complicated. So I said nothing and stifled my yawns so as not to be rude." (pág. 3)
"My father explained to Nagy and Diana that we had to carry on to Madrid. They found us a bus, but it didn't go to Madri direct: it stopped in France and we would have to change in Paris. I didn't want to go to France, I didn't even want to travel through France. A friend in Bangladesh had told me that in france they eat dogs. I tried to reassure myself by thinking about Zinedine Zidane: perhaps it was eating dog that made him so good? But Zidane or no Zidane, there was no way I was going to eat dog." (pág. 35)
"Like me, my father goes to school: he has French lessons. He never misses a lesson, and is absolutely determined to learn the language in order to 'integrate'. But he makes lots of mistakes and gets his words muddled up. For instance, one lunchtime in the canteen he hears someone say:
'Bon appétit!'
So after that he says it all the time to everyone, in the lobby, on the stairs, in the garden:
'Bon appétit! Bon appétit! Bon appétit!'
He thinks it means 'hello'. It makes me laugh." (pág. 78/79)
"Xavier, tell us the story of Nimzowitsch and the cigar.
'At a tournament, Nimzowitsch's opponent rested a cigar on the edge of the chessboard. Nimzowitsch, who detested the smell of tobacco, demanded that the referee should enforce the ban on smoking. The player with the cigar protested that he hadn't lit the cigar and therefore wasn't smoking, and the referee was force to concede that he was in the right. Whereupon Nimzowitsch retorted:'You know very well that in chess the threat is more powerful than its execution!" (pág. 148)
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