sábado, 28 de novembro de 2015

A dama do lago

Título: A dama do lago
Autor: Raymond Chandler
Páginas: 266

Clássico livro policial, de mistério e suspense, estilo "noir". Um magnata contrata um detetive particular para encontrar sua esposa desaparecida e as buscas começam num chalé nas montanhas, próximo a um lago que dá título ao livro.

Com a narrativa lenta e despretensiosa, comuns em livros do gênero, o autor vai inserindo mais detalhes na história, envolvendo o leitor em dramas e mistérios diversos até chegar ao clímax, mostrando que havia bem mais que um simples caso de pessoa desaparecida.

Trechos interessantes:

"'Quanto a estar sendo rude demais comigo', disse eu, 'a maior parte dos clientes começa chorando na minha camisa, ou então falando grosso para mostrar quem manda. Mas, de um modo geral, no fim eles ficam bastante razoáveis - se ainda estão vivos'." (pág. 25)

"'Não estava fazendo planos de casar com ela?'
Ele soltou uma baforada e falou por entre a fumaça: 'Pensei nisso, sim. Ela tem dinheiro. Dinheiro é sempre útil. Mas ia ser uma maneira muito desgastante de ganhá-lo'." (pág. 35)

"No canto inferior direito do para-brisas havia um cartaz branco escrito em letras maiúsculas:
ELEITORES, ATENÇÃO! VOTEM EM JIM PATTON PARA XERIFE. ELE ESTÁ VELHO DEMAIS PARA TRABALHAR." (pág. 65)

"'Deram cinco ou seis tiros nele', disse eu. 'Dois acertaram. Ele foi encurralado dentro do box do banheiro. Era uma cena muito sinistra, eu diria. Havia muito ódio num dos lados. Ou então uma mente muito fria'.
'Ele era alguém muito fácil de odiar', disse ela com uma voz vazia. 'E venenosamente fácil de amar. Mulheres, mesmo as mulheres direitas, cometem equívocos terríveis em relação aos homens'." (pág. 134)

"'O trabalho da polícia', disse ele, quase bondosamente, 'é um problema danado. Parece muito com a política. Exige o tipo mais elevado de homem, mas não existe nada nele que atraia o tipo mais elevado de homem. A gente tem que se virar com o que aparece, e o que aparece são coisas desse tipo'." (pág. 176)

"Atrás de mim vinha o som remoto e abafado de uma voz que parecia estar cantando a litania policial: 'Abra essa porta ou vamos arrombar.' Fiz uma careta na direção da voz. Eles não arrombariam nada, porque arrombar uma porta machuca os pés. Policiais são cuidadosos com os próprios pés. Aliás, os próprios pés são a única coisa que eles tratam com cuidado." (pág. 201)

domingo, 22 de novembro de 2015

A metade da laranja?

Título: A metade da laranja?
Autor: Ana Canosa
Páginas: 144

Livro pequeno, mas muito interessante. É como se fosse um papo descontraído com um psicólogo (a autora é psicóloga) sobre as atitudes comportamentais do ser humano. Sexo, casamento, relacionamentos, emoções, conflitos, tudo aqui é destrinchado, numa linguagem simples, franca e compreensiva.

Achei também interessante o fato da autora intercalar cada capítulo com um relato pessoal das consultas realizadas por ela (preservados os nomes dos envolvidos, é claro). Ali vemos que muitos problemas são comuns a muita gente e as soluções, ás vezes, podem ser simples.

Trechos interessantes:

"Entenda verdadeiramente o seguinte: nem todo mundo gosta de você, e há realmente quem o ache um saco! Portanto, acredite quando alguém lhe disser que você não agradou, porque isso não é 'viagem', neurose nem loucura alheia! Nem sempre você vai agradar mesmo! E tem mais... é possível que este bilhete vermelho venha justamente quando a paixão já estava começando a enfraquecer, e a pobre coitada da 'rotina' apareceu para estragar tudo. É comum, e sabe por quê? Porque é quando a paixão diminui que as parcerias realmente começam... 'ser parceiro' é admitir que o outro é tão falho quanto nós mesmos, mas ainda assim nós o admiramos e o queremos." (pág. 20)

"Há dois grupos de pessoas: as âncoras, que colocam nossa vida para baixo, e as pessoas do tipo 'balão', que nos puxam para cima. Sim, existem também aquelas que são 'meio-termo', que nunca dão opinião,  que não elogiam ou te desqualificam, mas ainda acredito que esse grupo fica mais próximo de gente âncora; nós gostamos de elogios, de opiniões e até mesmo de criticas, que sejam construtivas, ao passo que os que nunca se posicionam costumam nos deixar inseguros, temerosos ou com raiva." (pág. 34)

"É o que sempre digo: intimidade é bem diferente de simbiose, quando um se funde ao outro e a individualidade se perde. Se eu conto tudo para o outro, me esvazio, deixo até de ser interessante e surpreendente." (pág. 46)

"Se alguém souber onde estão vendendo orgasmos, eu gostaria de ser avisada, para poder presentear muita gente!" (pág. 49)

"Sexo no casamento é como cinema: tem a fase da ficção, do romance, da comédia romântica, do pastelão e do drama. Às vezes, tem até a fase do terror! Mudam-se as emoções, mas o enredo é quase sempre igual. E o pior, mesmo, é quando chega a fase do documentário... tudo fica descritivo, sem fantasia!" (pág. 60)

"O segredo da felicidade é simples: basta entender um pouquinho sobre o valor da liberdade para 'ser' quem somos, sem precisarmos abandonar nossa identidade em nome de um relacionamento. Quanto mais livre somos, mais vontade temos de voltar!" (pág. 69)

"Por mais que os cientistas procurem os genes da monogamia, a maioria das pessoas diz que não, o homem não é monogâmico por natureza. Segundo eles, o que aconteceu, num dado momento do desenvolvimento humano, foi a necessidade de regrar o comportamento sexual e afetivo, para que nossa espécie pudesse se desenvolver." (pág. 81)

"Lamentavelmente, não são poucas as pessoas que se escondem atrás das atitudes dos outros, projetando neles suas próprias dificuldades; ou os que se entorpecem com álcool, drogas ou excesso de trabalho. Para assumir a responsabilidade sobre sua vida, é necessário reconhecer suas próprias atitudes tóxicas, o que pode ser muito doloroso: quem não sofre ao admitir que está vivendo uma vida cheia de lixo, na forma de raiva, ressentimento, falta de perspectiva e prazer? Fica mais fácil
culpar alguém."(pág. 101)

"Por fim (ou talvez para começar), é preciso refletir: o que cada um tem feito para ser amado, querido e acarinhado? Só o fato de ser filha ou filho, mãe, pai, irmã ou irmão, esposa ou marido, e mesmo avó, não garante amor. Ninguém consegue amar com devoção alguém que não se faz ser amado. Não adianta cobrarmos afeto, generosidade ou educação se nós somos frios, egoístas, rabugentos e inacessíveis.'Porque eu sou sua mãe!' é uma frase que permite pedir respeito, não amor. Amar não é um verbo imperativo, e, para conjugá-lo, é preciso ter liberdade. O amor não vem pronto, é um sentimento que cresce, amadurece e deve ser cultivado." (pág. 120)

"Não me canso de perguntar: em que ser homossexual, ou bissexual ou, mesmo, assexual (pessoa que não gosta de sexo) desabona alguém? Por que sua preferência o tornaria melhor ou pior do que outra pessoa? Sobre quais valores estamos baseando a educação e o convívio em sociedade, para que o mundo seja melhor?" (pág. 126)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A invasão dos ratos

Título: A invasão dos ratos
Autor: James Herbert
Páginas: 142

Livro muito antigo, mas não encontrei em nenhum lugar a data de publicação. História de terror, cuja leitura não me agradou muito por se tratar de animais asquerosos. Mas a história em si é simples e coerente, só as personagens não me agradaram.

Numa cidade da Inglaterra, ratos gigantes aparecem aos montes e passam a atacar as pessoas, sejam elas homens, mulheres ou crianças. Um professor da escola local ajuda a polícia a tentar controlar o caos que se estabeleceu. O final da história é interessante.

Trechos interessantes:

"Que se podia esperar, quando se viviam na zona das docas, os pais trabalhando nas docas ou nas fábricas, a maioria das mães trabalhando também, de forma que os garotos quando saíam da escola para casa iam para uma casa vazia. E, quando os pais chegavam, não tinham tempo para eles. Apesar disso, no tempo dele ainda tinha sido pior. Hoje em dia os estivadores ganham bom dinheiro e os operários também. Muito mais que ele como professor. Hoje a grande diferença entre trabalhadores e classe média é a pronúncia." (pág. 12/13)

"Passou-se algum tempo até serem recebidos pelo médico, que era muito novo, muito mais novo do que Harris. Quando médicos e policiais parecem garotos, a velhice está à porta, divagou Harris." (pág. 18)

"Não, de nada servia exagerar com a autoridade, pois sabia que apatia existe a todos os níveis. O funcionário do gás esquece de reparar um escapamento. O mecânico que não aperta bem uma porca. O condutor que guia a mais de setenta quilômetros com nevoeiro. O leiteiro que deixa uma garrafa em vez de duas. Era tudo questão de proporção. Não era esse o significado do Pecado Original? Todos temos culpas." (pág. 47)

"Mas talvez a fuga mais fantástica de todas fosse a do jornaleiro, na sua volta matinal, que tomou um atalho e viu-se de repente no meio de trinta ou quarenta ratos gigantes. Espetacularmente calmo para um garoto de quatorze anos, avançou tranquilamente por meio deles, tendo o cuidado de não pisar nenhum. Sem qualquer razão aparente, deixaram-no passar incólume. Ninguém teria acreditado no rapaz, se não tivesse sido visto da estrada por dois homens a caminho do trabalho. Não havia explicação para o fenômeno, nenhuma razão lógica." (pág. 89)

"O caso é que quanto mais poder se tem, mais fácil se torna encontrar soluções para os problemas. Basta rodear-se de gente capaz, eles trazem as respostas e você toma a glória. O difícil era chegar a essa posição de autoridade, mas uma vez conseguida o resto era fácil." (pág. 98/99)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Deixados para trás

Título: Deixados para trás
Autor: Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins
Páginas: 416

Durante um voo de rotina o piloto é surpreendido com a notícia de que vários de seus passageiros simplesmente sumiram, restando apenas as roupas nos assentos. Mais tarde descobre-se que não foi um caso isolado: no mundo inteiro, inúmeras pessoas haviam desaparecido da mesma forma. Na falta de uma explicação lógica, as pessoas entenderam que havia chegado o dia do juízo final, aquelas pessoas haviam sido arrebatadas e as demais deixadas para trás.

A história do livro é centrada nisso e mesmo não discutindo de uma forma fanática a religião, no fundo, o objetivo é um só: direcionar para o aspecto religioso. Há alguns trechos envolvendo política, comunicação, jornalismo, etc. mas a maior parte é a discussão do aspecto religioso. Acho que o grande mérito do livro é, justamente, não dar respostas, deixar a situação em aberto.

Trechos interessantes:

"No fim da saleta, ele parou diante da porta com painéis em relevo que dava acesso ao quarto do casal. Que lugar bonito e bem-ornamentado Irene fez, com que gosto ela decorava todos os cantos da casa! Tinha ele alguma vez dito a ela que apreciava isso? Tinha ele alguma vez apreciado isso?" (pág. 71)

"-O que dizer daquela sua sarcástica insistência para que sejamos inteiramente sinceros?
-Dizer toda a verdade nem sempre significa dizer tudo o que fazemos. Você diz à sua tripulação que vai fazer uma pausa para ir ao banheiro, mas não entra em detalhes sobre o que vai fazer lá, não é mesmo?" (pág. 91)

"Finalmente, ele passou a compreender por que as famílias enlutadas se queixavam quando o corpo de um parente estava mutilado demais para ser reconhecido ou tinha sido completamente destruído. Elas costumavam dizer que não fazia sentido alguém lacrar o caixão, sem permitir que o corpo fosse visto, e que o sofrimento se tornava maior porque era difícil aceitarem a ideia de que a pessoa tinha morrido.
Isso sempre pareceu estranho para ele. Que motivos teria alguém para desejar ver o corpo da esposa ou do filho estendido num caixão à espera do funeral? Não seria melhor recordar deles vivos e felizes como eram? Mas ele agora compreendia melhor." (pág. 93)

"Poucas pessoas quiseram argumentar com Deus, tentando dizer-nos que tinham sido realmente crentes e deveriam ter sido arrebatadas com os outros, mas todos estávamos convencidos da verdade. Éramos pseudocristãos. Não havia um único entre nós que não soubesse o que significa ser um verdadeiro cristão. Sabíamos que não o éramos e que tínhamos sido deixados para trás." (pág. 176)

"Inúmeras pessoas pensaram que estavam no caminho para Deus ou para o céu por praticar boas obras, mas essa foi provavelmente a concepção mais equivocada que já houve. Perguntem a qualquer pessoa na rua o que ela pensa que a Bíblia ou a igreja diz a respeito de ganhar o céu, e nove entre dez dirão que, para ir para o céu, é preciso fazer o bem e viver uma vida reta." (pág. 182)

"Fui um homem de negócios acima da média na Romênia, quando ainda frequentava a escola secundária. Estudei muitas línguas à noite, aquelas que eu precisava conhecer para ser bem-sucedido. Durante o dia, administrava meus negócios de importação-exportação e consegui tornar-me um homem de dinheiro. Mas o que eu entendia por riqueza era insignificante diante do que se poderia fazer com ela." (pág. 264)

"-O que você vai decidir a respeito do convite para a nova função?
-Tenho 24 horas, lembra-se?
-Não use todo esse tempo. Se responder muito depressa, vai parecer ansioso; se demorar, indeciso." (pág. 293)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Nossas câmeras são seus olhos

Título: Nossas câmeras são seus olhos
Autor: Fernando Barbosa Lima
Páginas: 200

Fernando Barbosa Lima é um profissional da televisão, tendo trabalhado nas principais emissoras de televisão do país e criado mais de cem programas televisivos. Em suma, é uma autoridade em televisão e o livro nos mostra a evolução da televisão no Brasil, através da descrição de seus programas.

A história é contada através de relatos envolvendo atores, diretores e funcionários das empresas de televisão. Nisso mistura-se política, cultura e desenvolvimento ao mostrar a evolução da TV brasileira, não somente no aspecto material mas principalmente no aspecto de conteúdo. Mesmo que você não seja um adepto da televisão, pode-se achar muita coisa interessante no livro.

Trechos interessantes:

"Nenhum veículo de comunicação, em toda a história da humanidade, teve a força que tem a televisão.
[...]
Uma criança brasileira, por exemplo, assiste a mais de seis ou sete horas de televisão por dia, tempo superior ao que ela passa na escola, junto com amigos ou com a família. Como será o futuro dessa criança num Brasil do Terceiro Mundo?" (pág. 20)

"A boa repercussão do programa [Em poucas palavras] nos mostrava que uma televisão com conteúdo tem seu público, seus admiradores. Ao mesmo tempo, pensávamos e questionávamos o fato de a televisão, muitas vezes, estar apelando para uma grande audiência, baixando o nível dos programas e produzindo puro lixo. Entretanto, esses programas de baixo nível, absolutamente idiotas, atingem um público que, mesmo numeroso, mesmo dando alto Ibope, não tem poder aquisitivo para comprar os produtos anunciados. Nunca entendi por que boa parte dos anunciantes nunca levou isso em consideração. Pior, além de não vender, a marca desses anunciantes perde prestígio em meio a tanta vulgaridade." (pág. 41)

"-Coronel, seu filho Heraclinho (que era deputado) é uma boa pessoa, mas mente demais.
O coronel explicou:
Não é bem assim, meu filho; o Heraclinho só tem um defeito. Ele fala demais. A verdade acaba, e ele continua falando..." (pág. 49)

"E o general Castelo Branco, um pseudoliterato que sonhava com a Academia Brasileira de Letras e à noite gostava de frequentar teatros, assumia como ditador; exatamente por ser o primeiro ditador, foi quem mais prendeu e cassou direitos de milhares de intelectuais, políticos, estudantes, operários e camponeses. Nem Médici cassou direitos de tantos e prendeu tantos como Castelo Branco." (pág. 76)

"Nos países do Primeiro Mundo, à exceção de Portugal, as televisões não passam novelas em horário nobre. Por quê? É simples: nesses países as pessoas não querem ficar amarradas à noite vendo novelas. Preferem ir ao cinema, jantar fora, assistir a uma peça teatral ou uma ópera; muitas vezes, ler um bom livro. É outro nível de cultura, outro mundo." (pág. 88)

"No Xingu, o cacique Raoni disse para Washington, numa conversa gravada, uma das frases mais apropriadas que já ouvi:
-O índio, quando quer virar branco, fica bobo.
Traduzindo: quando se quer ser uma coisa que não é, se fica idiota. (pág. 145)

"Em outra ocasião, um famoso fotógrafo da revista Manchete foi convocado á sala de seu Adolpho, que lhe mostrou o último número da revista Geographic Magazine com suas fotos impecáveis, questionando:
-Por que não fazemos fotos tão boas?
-Seu Adolpho, imagine só as câmeras que esses fotógrafos da Geographic têm e compare com as nossas.
Seu Adolpho, sem se dar por vencido, retrucou imediatamente:
-Você acha que se Machado de Assis tivesse uma caneta Parker 51 escreveria melhor?" (pág. 161)